Um relatório da organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch mostra que a falta de rastreamento do gado vendido no Brasil está contribuindo para o avanço do desmatamento da Amazônia. O estudo, divulgado nesta quarta-feira (15), aponta que a pecuária é a principal causa do desmatamento na Amazônia.
Desde a década de 80, a maior parte das terras desmatadas virou pastagem para criação de gado. Mais de 90% do desmatamento na Floresta Amazônica é ilegal, segundo a legislação brasileira.
O diretor da Human Rights Watch no Brasil, César Muñoz, afirma que muitas dessas fazendas se estabeleceram ilegalmente em áreas protegidas, como terras indígenas e assentamentos do Incra, e que essa invasão das terras pelos grileiros é feita com uso da violência.
“Eles usam ameaças, intimidação e ataques. Numa dessas comunidades onde a gente fez pesquisa, chamada Terra Nossa, houve quatro assassinatos de pessoas que se puseram contra esta invasão ilegal. Então, são lugares muito, muito perigosos”, destaca Muñoz.
Desmatamento é expressivo no estado do Pará
Segundo os dados da Human Rights Watch, o desmatamento é expressivo no estado do Pará, onde foram identificadas fazendas ilegais em dois territórios: na terra indígena Cachoeira Seca, do povo Arara, e na Terra Nossa, projeto de desenvolvimento sustentável de pequenos agricultores. O estado tem a segunda maior área no sistema de registro de imóveis rurais cadastrados como áreas protegidas. No ano passado, o Pará também teve o segundo maior número de conflitos fundiários.
Atualmente, não é possível rastrear a origem do gado no Brasil, mas, de acordo com o relatório, a comparação de lotes com registros de características como sexo e idade dos animais comprados por uma das maiores produtoras de carne do mundo, que tem frigoríficos no país, indicou que é possível que esse gado tenha origem nas fazendas ilegais identificadas no estado do Pará. O relatório conclui que, sem a comprovação da origem dos animais dos seus fornecedores indiretos, a empresa não tem como garantir que não incluiu na sua cadeia de fornecimento o gado ilegal do assentamento Terra Nossa e da terra indígena Cachoeira Seca.
Sistema de rastreamento do gado é fundamental
O diretor da Human Rights Watch no Brasil, César Muñoz, destaca que é fundamental que haja um sistema de rastreamento do gado comercializado no país:
“O que o Brasil precisa é de um sistema melhor de controle, que é a rastreabilidade, que significa você saber exatamente onde nasceu cada cabeça de gado no Brasil. Isso pode ser feito, deve ser feito.”
O relatório apontou também que produtos de carne bovina ou couro feitos a partir de gado ilegal podem ter sido exportados para a União Europeia, principalmente para a Itália.
A Human Rights Watch cobrou medidas do governo do estado do Pará e da empresa produtora de carne citada. Nós solicitamos notas de ambos, mas, até o fechamento da reportagem, não obtivemos resposta.