Um estudo divulgado pelo INPA mostra que manter a floresta Amazônica em pé é essencial para garantir a alimentação de povos indígenas e comunidades tradicionais. A pesquisa revela quanto a carne de animais silvestres representa na dieta dessas populações e como o desmatamento ameaça esse recurso.
De acordo com a pesquisa, florestas saudáveis garantem que povos amazônicos tenham acesso à carne de caça, uma das principais fontes de proteína dessas comunidades. O estudo analisou mais de 600 comunidades ao longo de quase 60 anos e mostrou que, em áreas preservadas, a caça tradicional fornece nutrientes essenciais, como proteína, ferro e vitaminas, fundamentais para a saúde dessas populações.
A pesquisa mostrou uma diversidade surpreendente de animais consumidos, envolvendo 490 espécies, sendo a paca a mais caçada na Amazônia.
Especialistas explicam que a carne silvestre, em algumas regiões, pode representar até metade da proteína consumida pelas famílias que vivem na floresta.
Mas o relatório traz um alerta: onde há desmatamento, há menos animais. Em áreas com mais de 70% de floresta perdida, que corresponde a cerca de 500 mil km², houve uma redução de 67% na quantidade de animais e da produtividade da carne, com impacto direto nas comunidades, de acordo com um dos autores do artigo, o ecólogo de fauna André Antunes.
“Em regiões que você tem uma maior degradação, principalmente pelo desmatamento, você passa a ter uma menor disponibilidade de animais de caça e isso, provavelmente, vai ter reflexo na própria segurança alimentar e nutricional dessas pessoas que passam a depender, de carnes domésticas. Provavelmente o frango, que é mais barato. Que, em geral é um tipo de carne que tem menor disponibilidade de nutrientes, quando você compara com carne de casa”, explica Antunes.
Ao todo, 59 pesquisadores de instituições nacionais e internacionais assinam o trabalho que tem também a coparticipação de pesquisadores indígenas de dez povos de toda a Amazônia.
Para Dzoodzo Baniwa, líder e pesquisador indígena do povo Baniwa, a participação dos povos indígenas na pesquisa é um passo importante para tornar a ciência mais inclusiva.
“Percebo que estamos contribuindo com a ciência, incorporando nossos manejos ancestrais sobre manejo sustentável da fauna. Não só da fauna, mas o manejo sustentável do território, fortalecendo a construção de um conhecimento verdadeiramente intercultural e sistêmico. Vejo como um movimento que traz justiça epistêmica”.