S.O.S! Terra Chamando! – Episódio 5 – Aquecida e Desidratada
🎵 Abertura 🎵
🎵 Barulho hospital marcador de sinais vitais 🎵
Terra (Kailani Vinício): Me sinto desidratada…..
Dr. Cruz (Pablo Aguilar): Como é isso? Como é se sentir desidratada, Terra?
Terra : É assim doutor…nas minhas palavras, tá? Vai desculpando aí!
Dr. Cruz: Pode ficar à vontade…
Terra: É que parece que esse aquecimento maluco secou tudo em mim, sabe? Tô sem lágrimas até para chorar! (abatida)
Dr. Cruz: Eu entendo! Vamos seguir com o soro intravenoso e aumentar a hidratação. Mas, como falei, a senhora tem sintomas de esgotamento. O pulmão me preocupa e ainda tem essa febre que me deixa de orelha em pé. (preocupado)
Terra: Queria eu estar de pé…
Dr. Cruz: E, desidratada, a senhora perde a capacidade de regular a temperatura…
Terra: E tem mais, doutor!!! Não esquece da minha irritação! Irritada com a humanidade. Ah, que crise!!! (irritada)
🎵Sobe Som 🎵
Adrielen Alves: A Terra sabe tudo! E mais, sente tudo – tá a flor da pele! Mesmo sem dar “nome aos bois”, como diz o velho ditado, ela sabe que vive “a” crise. Crise planetária. Climática. Hídrica. Tudo junto.
A Terra, nossa personagem principal, vive uma mistura de sintomas: do aumento da temperatura à sensação de desidratação. Quem aí se identifica?
Dr. Cruz: A Terra já disse antes e eu reafirmo agora: está tudo interligado!
Adrielen: Polui lá, aquece aqui, altera o ciclo das águas ali. Está tudo interligado mesmo, como alerta o meu, o seu, o nosso Dr. Cruz.
Esse médico se diz de “orelhas em pé”, uma metáfora, né gente, não podia deixar de ser – para expressar preocupação com a saúde da Terra.
Terra: Pelo menos alguém nesse planeta todinho preocupado comigo!
Adrielen: Em nossa defesa, eu faço por mim e por você que me escuta agora, eu digo à Terra que não é só o Dr. Cruz que está preocupado. Viu Terra? Estamos todos aflitos com esse drama!
Passando da nossa radionovela, aqui para a vida real: tem uma galera ligada no movimento, sim, e preocupada, simmm, em salvar o planeta, que se chama Terra, mas poderia tranquilamente, se chamar: Planeta Água.
Eu sou Adrielen Alves, jornalista de ciência. Este é o episódio cinco da primeira temporada do podcast: S.O.S! Terra Chamando! Uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
🎵Sobe Som 🎵
Adrielen: A situação é dramática! E o testemunho vem diretamente da Floresta Amazônica, com Manoel Cunha. Ele é representante do Instituto Chico Mendes na Reserva do Médio-Juruá, em Carauari, Amazonas.
Manoel Cunha: “Para você ter uma ideia, a situação dramática que está hoje no Rio Juruá nunca na história se viu esse rio tão seco perder condições de navegabilidade, está vinculado ao desmatamento que nós temos lá no Peru, lá na Bolívia. Como nós tivemos uma grande seca e a nascente do nosso rio está bastante desmatada por dois países que não é nem o Brasil então veja que está caindo sobre nós, diminuiu o curso de água do rio e volume de água do rio, também diminuiu a velocidade que essa água corre e começou a formar bancos de areia pelo meio do rio, como também começou a acumular tronco de madeira pelo meio do rio, furando os barcos e naufragando os barcos, e gerando o acidente de lancha e entre outros tipos de acidentes. Então o meio ambiente é completamente equilibrado e interligado.”
Adrielen: O extrativista, assim como a Terra lá no início do podcast, relata o impacto da seca, da escassez de água na região que tem a maior concentração…… (Terra interrompe)
Terra: Peraí, Adrielen! Fala bem devagar pra todo mundo entender
Adrielen: Ok, Terra…! Seu pedido é uma ordem! Vamos lá: estamos falando de escassez de água na região que tem a maior concentração de rios do planeta: a Bacia Amazônica. Que ironia do destino!
Dr. Cruz: É mesmo um grande paradoxo, e infelizmente real.
Adrielen: A Bacia Amazônica tem simplesmente o maior volume de água doce do globo terrestre e escoa um quinto dessa água. Os dados são do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
E é justamente nesse lugar do planeta…que a escassez de água não dá trégua, minha gente.
O Rio Juruá, por exemplo, que nasce lá no Peru e banha, no Brasil, o Acre e o Amazonas, teve, em 2024, uma seca histórica!
Mas, se um tempo é de seca, pode acreditar que tem também tempo de cheias… históricas, como relembra o Manoel.
Manoel Cunha: “Em 2021, nós tivemos uma cheia muito grande, que carregou todas as sementes que a gente coleta, nós somos fornecedor de matéria prima, de manteiga de murumuru, óleo de andiroba foi mais de um milhão de reais que as comunidades deixaram de receber, porque a água, se antecipou, levou todas as sementes deles. Quando foi em 2020, que nós tivemos um período de uma “alagação” muito longa, que matou bastante as ‘plantações’ de seringueiras, os seringueiros deixaram de produzir a quantidade certa que eles produziam, que já equilibrava, que já tinha como base do equilíbrio da sua família, diminuiu isso drasticamente. Quando agora que a gente tem uma seca dessa, que a comunidade não consegue fazer os seus manejos, a comunidade que tinha se organizado, contando com aquele recurso que era o oriundo do seu manejo da pesca, o manejo do pirarucu, que agora não vai chegar na família. Imagina como a família vai se reorganizar no seu processo financeiro, e as compras, e as contas que a família tinha feito pensando naquele dinheiro, como que vai ser? Então está tudo interligado!
Adrielen: É seca. É enchente. Tá explicado porque a Terra anda tão irritada e a humanidade tão afetada.
🎵 Sobe Som 🎵
Adrielen: Tem água. Falta água. Ora estiagem, ora inundação!
Da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Do Brasil ao Afeganistão, as mudanças climáticas impactam o curso, fluxo, ciclo das águas que por sua vez impactam, lógico, a nossa vida.
E aproveitando o gancho do encontro das palavras “água” e “vida”, tudo na mesma frase, vamos ao clássico da astronomia, quando falamos em vida no universo:
“Se tem água, tem vida”, como bem nos explicou a astrônoma Simone Daflon, no primeiro episódio.
Simone Daflon: Porque a água é um dos ingredientes fundamentais para o desenvolvimento da vida como a gente conhece.
Adrielen: Esta composição química riquíssima está em tudo: compõe cerca de 70% dos nossos corpos e…pasmem…70% da superfície do planeta – a famosa hidrosfera, formada pelos rios, lagos, mares, oceanos e vapor de água
Terra: Olha como a gente dá match! É 70% meus e 70% seus!
Adrielen: Dos rios aos oceanos – o aquecimento das águas terá reflexo direto no nosso modo de estar no planeta. Foi o que ouvimos há pouco sobre os povos da floresta que perderam tudo – ora com a escassez, ora com as enchentes dos rios amazônicos.
O alerta vem também com Afonso Gonçalves, oceanógrafo que está de volta ao podcast.
Afonso Gonçalves: A gente está em crise, a crise climática, é real, causada pelo homem, existe, é importante, a gente tem que ficar preocupado com isso, porque põe em risco o modo de vida que a gente tem a nossa proximidade com os oceanos, com os nossos alimentos, da forma como se relaciona com a agricultura, a pecuária, com a pesca, tudo é influenciado por isso.
Adrielen: Se liga nessa equação (não é matemática, mas é equação de vida): Aquecer a atmosfera é aquecer os oceanos, um dos principais reguladores da temperatura do planeta.
Afonso Gonçalves: Nos oceanos, a gente tem essa regulação do clima muito fortemente gerida pelo oceano, a gente tem esse feedback muito forte entre o oceano e a atmosfera. Então os movimentos que acontecem há muitos anos, já há décadas. E a questão do oceano é como uma grande bomba, que pulsa e que redistribui calor, que absorve e redistribui calor que torna a vida possível. Então, assim como é fundamental, a gente pensar na temperatura do planeta, é fundamental pensar no oceano como um “ser”[0:26:44] que precisa ser preservado para que a gente consiga manter o nosso estilo de vida minimamente como a gente conhece.
Adrielen: Com tudo aquecido, com esse o aquecimento global o regime de chuvas muda, gente. Daí esse “modo alucicrazy”, que tem estiagem histórica em um ponto, e enchentes nunca vistas antes em outro ponto.
Pontos diferentes, mas tudo dentro do planeta, né Afonso?!!!
Afonso Gonçalves : A cultura nossa como humanidade está interligada ao oceano. Se quisermos usar os oceanos, usando o oceano como lazer, como fonte de alimento, como um local para transporte. E como biodiversidade mesmo, né? Porque tem essa questão da regulação do clima pelo oceano, a gente precisa manter o oceano mais próximo possível do original.(…) A gente polui os oceanos, isso impacta diretamente a saúde humana, a saúde ambiental, (…)a gente está alterando as paisagens na região costeira, a urbanização excessiva, mineração, extração de minerais nos oceanos, isso modifica o as paisagens, modifica o ecossistema. Isso tudo impacta em outro ponto muito importante, da perda de biodiversidade, a gente perde, porque a biodiversidade marinha nos ajuda. Retirando o gás carbônico da atmosfera, devolvendo oxigênio, servindo de alimentação para a gente, uma fonte de proteína muito importante. Então tem vários níveis, a gente tem que tentar preservar o máximo possível. E aí o ponto fundamental, das mudanças climáticas incide como a gente está afetando o oceano, a água está aquecendo, e as correntes estão tão mudando, e isso tudo, as mudanças climáticas têm um pezinho em todos esses pontos que a gente falou, da poluição, da alteração de paisagem, da perda de biodiversidade. Fundamental que a gente tenta voltar para ter o oceano mais próximo possível de como era antes de a gente começar a Revolução Industrial, começar essa loucura toda com toda de um uso exacerbado, com tanto impacto negativo.
Adrielen: O apelo das Nações Unidas vai no mesmo sentido. O aquecimento global, a crise hídrica, vão atingir em cheio os mais vulneráveis…mas, mais adiante, pode ficar tranquis ou não , vai atingir a todos.
Dr. Cruz: É Terra, trata-se mesmo de uma insegurança hídrica.
Terra: Mexeu comigo, mexeu com todos!
🎵Sobe Som 🎵
Adrielen: É! Mexeu com a Terra, mexeu com a gente! Mexeu comigo, que moro no Planalto Central! Contigo, que mora em outras partes do país: Onde você está? No litoral, no interior do país, ou na Floresta Amazônica, como o Manoel Cunha?
Manoel Cunha: Então, a mudança climática, eu sempre digo que ela é como a guerra, ela chega para fazer o mal em todos os aspectos da vida da pessoa. E é uma guerra difícil de encarar, porque se a gente olhar e comparar ela com a guerra, as nossas comunidades tradicionais, nós somos soldados da frente, quer dizer, é aquele que está com sua vida mais em risco. Mas nós não temos a caneta, nós não temos o poder de decisão de fazer algo que possa minimizar, que possa mitigar os impactos das mudanças climáticas. Então, eu sempre digo que nós estamos primeiro, soldado da frente, e sem arma. Não tem como nós se defender, porque as mudanças climáticas tão aí, não é por ação nossa, é por ação dos homens, mas não pelas ações das comunidades tradicionais que são conservadoras de meio ambiente, de floresta, de tudo que nós tem de riqueza natural.
Adrielen: Se tem uma coisa que temos nos empenhado nesse podcast é em diversificar as vozes das ciências, do meio ambiente, da vida! E há quase que uma unicidade de vozes quando a gente fala da Terra:
Colagem (Julianne Gouveia, Anita Lucchesi, Teresa Santos, Ana Elisa Santana): “Ainda dá tempo de salvar o planeta: a hora de mudar é agora”! “Precisamos frear as emissões de gases que agravam o Efeito Estufa!” “Água é vida! Floresta de pé é vida!” “Cada um faz a sua parte. Juntos, cuidamos do todo!”
Adrielen: Tem também, uma que gosto muito e que já ouvi por aqui na voz de André Felipe, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz: Bora conscientizar agora!
André Felipe: Então, nós precisamos também inclusive ser criativos nas formas como nós vamos organizar e nas formas como nós vamos responder a esses desafios. Então, eu acho que a gente precisa ser muito atento, inclusive, para um certo uso político desse discurso neoliberal que tem de jogar tudo nas costas do indivíduo. Então, você precisa economizar a água, você precisa fazer isso, fazer aquilo. Na verdade, é claro que isso é importante. De forma nenhuma, eu desaconselho esse tipo de medida. Mas se você vê, é importante não perder de vista. Quem usa, por exemplo, dois terços dos usos de água. Quem são os responsáveis por dois terços dos usos de água? Quem são os grandes responsáveis pelo desmatamento? E como isso te afeta? Qual é a cadeia de produção daquilo que você está consumindo? Então, eu acho que essa conscientização, ela precisa vir junto para a gente conseguir lidar com isso de uma maneira efetiva.
Adrielen: Está tudo conectado – modo socioeconômico, com política, com justiça e consciência ambiental. Pode até parecer que não, mas está, tá bem?
Vide Chico Mendes, uma das maiores lideranças ambientais do mundo, assassinado em 1988, em Xapuri, no Acre. Ele teve um insight brilhante, que compartilho na voz de Thiago Regotto.
Thiago Regotto: No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.
🎵 Sobe Som 🎵
Dr. Cruz: Pelo menos mais alguns dias aqui na UTI, Terra! É pra sua segurança!
Terra: Doutor, quero sair daqui! E quem depende de mim, como fica?
Dr. Cruz: A senhora realmente está preocupada com ‘’o outro’’?
Terra: É que sei que se adoeço, todo mundo adoece…
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
Adrielen: No sexto episódio:
Adrielen: O que será da humanidade com a Terra colapsada?
🎵 Sobe Som Trilha 🎵
Adrielen: Este é o S.O.S! Terra Chamando! O podcast sobre a saúde do planeta. Uma co-produção da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz.
Eu sou Adrielen Alves, responsável pela idealização, roteiro e apresentação. A pesquisa e a produção são de Anita Lucchesi e Teresa Santos.
A edição de conteúdo é da Julianne Gouveia.
A revisão é da Ana Elisa Santana.
Fazem parte da comissão técno-científica: Carlos Machado de Freitas da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca; Carlos Henrique Assunção Paiva, Diego Vaz Bevilaqua, Dilene Raimundo do Nascimento, Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz; e Tereza Amorim Costa, do Museu da Vida Fiocruz, unidades da Fundação Oswaldo Cruz.
Os atores são Georgiana Góes e Pablo Aguilar, do Museu da Vida Fiocruz.
O apoio à produção em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, ficou por conta de Adriana Ribeiro, Mara Régia e Victor Ribeiro. A operação de áudio é de Álvaro Seixas, Thiago Coelho e Reynaldo Santos, Thales Santos e Reinaldo Shiro.
A locução de frase de Chico Mendes é do Thiago Regotto.
A edição final e a sonoplastia são da Pipoca Sound.
Este episódio usa áudios de Ana Elisa Santana, da TV Brasil., Anita Lucchesi, André Felipe, da Casa de Oswaldo Cruz; Afonso Gonçalves, do Instituto de Oceanos de Bermudas, nos Estados Unidos, Julianne Gouveia e Teresa Santos, do Museu da Vida Fiocruz, Manoel Cunha, representante do ICMBIO na Reserva Extrativista do Médio Juruá, no Amazonas, de Simone Daflon, astrônoma do Observatório Nacional, além do acervo da Empresa Brasil de Comunicação. Até a próxima!
🎵 Vinheta Encerramento 🎵
🎵 Som de fita voltando 🎵
Beatriz Arcoverde: Também contribuíram na Coordenação de Processos, implementação e publicação nas plataformas: Equipe da Radioagência Nacional – EBC, Interpretação em Libras: Equipe de tradução da EBC, na edição de vídeo para o youtube: Mateus Araújo e o responsável pela arte: Vinícios Espangeiro.
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵