“Nos territórios, as mulheres protagonizam as mudanças”, diz bióloga

Nesta quarta-feira (19), considerado o “Dia do Gênero” na COP30, lideranças e especialistas debateram como colocar a questão do gênero no centro das negociações sobre soluções climáticas.

Ao longo da manhã, o evento “Agenda de Ação: Mulheres, vozes que guiam o futuro” reuniu relatos nacionais e internacionais sobre o protagonismo das mulheres no enfrentamento aos impactos do clima.

O governo brasileiro apresentou os avanços do “Protocolo Nacional para Mulheres e Meninas em Emergências Climáticas”, e reforçou a igualdade de gênero como uma obrigação para resiliência. O evento contou com a participação da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Já a primeira-dama, Janja da Silva, enviada especial para as mulheres na COP30, apresentou em vídeo “vozes” de mulheres pelos biomas brasileiros, um trabalho realizado nos últimos meses. Ela cobrou a presença de mais mulheres dos territórios visitados nas mesas de negociação da Conferência do Clima.

“O que a gente viu nos territórios, foram mulheres fortes, resilientes, com soluções, com propostas pro enfrentamento à crise climática. É exatamente isso que se ouviu aqui: a gente precisa conectar o que a gente apresentou aqui no vídeo com as mesas de negociação. As mesas de negociações não pisam nos territórios”.

A socióloga Elida Nascimento trouxe sua experiência. Ela se formou e voltou para seu território de Itacoã-Miri, no Pará, onde hoje coordena 125 mulheres quilombolas, que produzem biojoias, frutos e trabalham com finanças, conciliando economia, gênero e preservação do ambiente. Elida Nascimento quer que sua luta inspire outras mulheres.

“Depois de já ter dois filhos, aos 29 anos, eu acesso a Universidade Federal do Pará, através das políticas públicas, e eu acessei a política. Estou na universidade, estou me formando, mas as manas estão lá. Ainda enfrentando violência de gênero. Eu fui aquela que o companheiro disse: ou a universidade, ou eu. E, graças a ele, muito obrigada meu ex-companheiro, estou até hoje na universidade”.

Luciana Leite, bióloga, trouxe a experiência da recente crise dos incêndios no Pantanal, atrelada à crise hídrica, e de como várias mulheres estão na linha de frente do combate ao fogo, como veterinárias, cientistas, entre muitos outros papéis de proteção ao meio ambiente.

“Quando a gente pergunta o papel da mulher na construção desse futuro possível, eu podia falar pra vocês de quinhentas, de milhares mulheres, não apenas de cinco. Porque, no território, a gente vê que são as mulheres que tão protagonizando a mudança, são as mulheres que estão encontrando as soluções. Tem uma frase no Pantanal, que me marca muito, e eu acho que todos os biomas brasileiros são marcados por maior ou menor quantidade de água, mas, no pantanal, é onde essas águas se encontram. E no pantanal a gente diz que mulheres são como água, porque elas crescem quando se juntam”.